domingo, 9 de setembro de 2012

Uma Partida Inesperada (Fuga de mim!)


Por hora, as coisas estão soltas, o voo atrasou, o dia se calou na sua suprema conturbação, vários passos se interligam e se vão diante o mesmo local de embarque e desembarque. Nem ida nem volta, estou duelando entre minha dupla angustia, a noite soa em doses distintas de vozes, risos, abraços de despedidas, saudações de chegada, e, eu, permaneço no mesmo estado latente de perplexidade emocional.
Os casais expõem explicitamente seus momentos felizes, não mais me reconheço na tentativa de ser indiferente aos beijos e caricias trocados entres os enamorados, tudo é frio e ardente ao mesmo tempo; e aquele tempo não passa, ou esta dor infeliz insiste em não dizer adeus. Em meio a tantos atrativos a febre continua, nem mesmo o ensurdecedor barulho das turbinas dos aviões me assusta, ou me arrancam risos como antigamente. Já é madrugada, faço check-in, despacho as malas, vivo de excessos ultimamente, excesso de dor, de rancor, de remorso, de saudade, excesso de sobra de tempo, excesso até de bagagem!
Agora passa da meia noite, depois de lançar os passos trôpegos por toda esta habitação momentânea, sento-me para alivio dos pés, porém a alma permanece carregada e não há nada que seja interessante para este ser, além de escrever. É hora do embarque, irei a destino à cidade maravilhosa, o Rio de Janeiro que tanto me fascina, mas hoje deveras nem isso me cativar. Pois bem tomei em meus braços o dia cinco de agosto na capital baiana, mas vi o dia receber seus primeiros raios solares em solo carioca, foi indescritível saudar o Cristo Redentor numa madrugada cheia de graça, na graça natural de um sorriso atraente da comissária de bordo.
Ancorada no Aeroporto do Galeão, aguardo a partida do voo para meu destino final. Na espera do segundo embarque do dia, observo as pessoas, vagamente ainda consigo esboçar um meio sorriso amarelo e sem graça para os que me cumprimentam, depois firmo meu olhar para minha companhia de viagem, estou a reler Os Sofrimentos do Jovem Werther do magnífico Goethe; cada carta de Werther para Wilhelm reflete em mim o mesmo sabor conflitante do amor, a mesma forçosa renuncia imposta pelo outrem. O mundo me parece sombrio e amargo, vou sem saber por que, e para que, sei apenas que estou indo, e nesse momento não há nada que eu possa fazer. Portão vinte e cinco, fecho o livro, lanço a mochila às costas e vou para o corredor, alguns oi, olá, e o bom dia sempre receptivo da aeromoça, mas uma vez estou á janela, no sete A, entre tantos pensamentos ruidosos, me desfiz em nada, passei a contemplar a decolagem, e certos minutos perguntava-me porque estava ali! Sem resposta que pudesse satisfazer, fiquei a admirar o trabalho das elegantes aeromoças, e por momentos a trocar gentilezas com uma delas. Exatamente na hora prevista pouso em solo catarinense, cheguei ao meu destino, não sei o que me espera aqui, o que posso dizer é que sigo neste duelo heroico de matar ou não este amor que habita em mim.


04\05 de Agosto de 2012   Natália Tamara


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